domingo, 5 de julho de 2009

ECONOMIA

A física, a economia e a crise financeira internacional
Alexandre Cialdine-Jornal O Povo 04/07/2009

Albert Einstein escreveu que “a ciência não é nada mais que o refinamento do pensamento cotidiano”. A economia, assim, como a física, é considerada ciência, pois ambas se utilizam do método científico, ou seja, regras pré-definidas para o desenvolvimento de uma pesquisa. A física, por exemplo, tem como observação os fenômenos físicos da natureza, já a economia, como toda ciência social, não pode desviar seu foco da sociedade em seu campo de estudo. As ciências se desenvolvem por meio do método cientifico que é composto por cinco fases: 1) observação de um fato social, fase em que são detectados os problemas; 2) formulação de hipóteses, possíveis respostas; 3) argumentação, com a busca de conhecimentos nas diversas áreas e autoridades, 4) estabelecimento de uma tese, ou seja, comprovação de uma hipótese, 5) teoria, conjunto de teses que explica um fato. Isaac Newton, no século XVII, desenvolveu a teoria da gravidade, a partir do momento em que viu uma maçã cair de uma árvore, fundamentando que a teoria não servia só para maça, mas para qualquer tipo de objeto. Essa teoria, que mesmo depois de ter sido refutada por Einstein, foi tão bem-sucedida que ainda é ensinada nos cursos de física.
Assim também uma teoria ganha adeptos na economia e em outras ciências e se perpetua no tempo. Todavia, embora os economistas, como os demais cientistas, utilizam a teoria como referência para a solução dos problemas, eles enfrentam um empecilho que se transforma em desafio contínuo. Na física, como ciência pura, pode-se testar as hipóteses, dentro de um laboratório, mediante controle de temperatura, pressão e gravidade visando melhor o desempenho ou criando algo completamente novo. Na economia, as hipóteses também são elaboradas objetivando facilitar a compreensão das relações sociais dos indivíduos, a partir da observação da sociedade, pois, estuda a produção, distribuição e, consumo de bens e serviços.
A crise financeira internacional que, felizmente o Brasil está em processo de superação, serve para que os economistas de mercado se “embriaguem” menos e observem mais seu laboratório, ou seja, a sociedade. De forma que uma tese que embasa uma teoria seja sempre refutada e provoque alterações ou novas teorias, pois recorrentemente o mundo real não tem se conformado com resultados preditivos e, algumas previsões econômicas diante de uma crise e logo caem por terra. O excepcional Alfred Marshall, que era matemático, físico e economista dizia que a explicação cientifica é apenas uma “previsão escrita de trás para frente”, mas a proposição inversa é falsa: a previsão não é necessariamente explicação escrita para frente.
Não há e nunca haverá uma única verdade, por isso, não há uma teoria absoluta, as visões funcionalistas baseadas no método empírico, que retiram da experiência sua observação, voltadas para o conhecimento lógico-dedutivo, que parte do maior para o menor, como no “Boicote de Comte” falham completamente na sua argumentação e comprometem suas teses, pois não admitem que a economia deva fazer uso do conhecimento histórico-indutivo, que parte da observação ao seu redor, do fato social local e seu desenvolvimento, como bem alertava Celso Furtado.
E, a atual crise financeira demonstra isso, pois parte dos economistas que sempre aturaram na linha de mercado e que não se preocuparam com a sociedade, inebriados por seus interesses particularizados ou corporativos, inerentes ao sistema capitalista, não perceberam que o problema não estava na circulação de papéis, nos grandes centros comerciais ou nas grandes Bolsas de Investimentos, mas no comportamento desenfreado das pessoas de trocar a certeza de um patrimônio imóvel pelo recebimento de valores estimados pelo mercado (ou seja, pela dedução de que o imóvel no próximo mês valeria mais X por cento do que neste, portanto, cobriria o valor já financiado). Assim, tal expectativa de valoração do imóvel, contínua, fez com que as pessoas se despreocupassem de adquirir dinheiro por outro meio, porque bastava apresentar a escritura de seu imóvel, mesmo financiado em um banco para obter um crédito pré-aprovado, assim utilizavam hipotecas parciais para pagamento de outras dívidas e consumiam outros bens.
Mas, justiça se faça aos que estavam no epicentro da crise financeira, que estavam no meio acadêmico não se deixaram ludibriar pelas expectativas irracionais, Paul Krugman, Joseph Stigletz, Nouriel Roubini e seu orientador Jeffrey Sachs foram economistas conhecidos, em âmbito internacional e ligados à academia, já vinham alertando anos antes sobre os diversos problemas da “bolha imobiliária”.
Entretanto, nomes não muito conhecidos aqui já tinham publicações e análises consistentes, que consideravam de grande risco o crédito hipotecário imobiliário praticado de forma mais abrangente nos EUA.
E, para não deixar de falar de índices, os economistas Karl Case (Wellesley College) e Robert Schiller (Yale University) criaram um índice para medir o desempenho do mercado imobiliário norte-americano. O índice, denominado Case-Schiller, vinha se mantendo estável desde 1987 e começou a disparar a partir de 2000. No pico da especulação imobiliária em 2006, chegou a triplicar de valor. Para se ter uma idéia de 1997 a 2006 houve uma forte valorização dos imóveis residenciais americanos, onde os aumentos reais atingiram 85%, sendo que, no ano de 2005, no auge do processo, esse percentual chegou a 15%. Foi o maior boom imobiliário nos EUA em mais de 50 anos.
Assim, a crise, que tem sido superada, traz mais uma vez a necessidade de se rever a metodologia e os critérios de aceitação e rejeição dos programas de investigação, fixando padrões que contribuam a distinguir o trigo do joio, afora, a evidente necessidade de um estado que regule o capital olhando para os fatores sociais e locais existentes. Pois de nada adiantou o sistema defendido pelo capitalismo norte-americano de auto-regulação do mercado, haja vista que o capital independente teve e está ainda se socorrendo da mediação estatal para que não ocorra um colapso.
Alexandre Cialdini é Secretário de Finanças de Fortaleza

Um comentário:

Joatan Freitas disse...

Gostei também do blog da Valdecy Alves! valeu!