quinta-feira, 2 de julho de 2009

DÓLARxREAL

Cotação
Entenda a desvalorização do dólar no Brasil


Cotação da moeda norte-americana ante o real caiu 15,70% no 2º trimestre deste ano, maior queda da história

O dólar registrou no segundo trimestre de 2009 a maior desvalorização ante o real desde o início do regime de câmbio flutuante no Brasil, em 1999. Segundo dados da consultoria Economática, a cotação da moeda norte-americana caiu 15,70% entre abril e junho deste ano. Os dados se referem à cotação de venda para a Ptax, taxa média das cotações ponderada pelo Banco Central. Em 1º de abril, a moeda era cotada por R$ 2,2899. No pregão de terça-feira, fechou em R$ 1,9516. A maior desvalorização antes deste trimestre havia sido no segundo trimestre de 2003, quando o dólar caiu 14,35% no período. No 1º semestre deste ano, a Ptax registrou desvalorização de 16,49%, a terceira maior queda anual desde 1999, perdendo apenas para os anos de 2003 (18,23%) e 2007 (17,15%).
Veja algumas perguntas sobre os motivos da valorização do real e seu impacto na economia brasileira:

Por que o real tem se valorizado tanto?

Segundo o sócio-diretor da consultoria BMI BankRisk Management, Antônio Dirceu Miranda, o dólar vem se desvalorizando em todo o mundo, como consequência da política monetária do governo norte-americano, que é uma política de alto endividamento. "O dólar está caindo porque houve muita emissão nos últimos anos, seja em forma de dívida, seja em forma de moeda." Também há fatores específicos na economia brasileira que ajudam na valorização do real, entre eles o aumento das exportações e dos preços das commodities, que vem puxando para cima o saldo da balança comercial. Dados mostram que o saldo comercial brasileiro em junho ficou em US$ 4,625 bilhões, o maior desde dezembro de 2006. Além disso, o fluxo de dólares para o Brasil reverteu a tendência de queda a partir de março, como resultado do saldo positivo na balança e da retomada de investimentos no mercado brasileiro, principalmente em ações. Com a entrada maior de dólares no País, a oferta da moeda aumenta no mercado e a tendência da taxa de câmbio é cair. O fluxo positivo nos últimos meses mostra uma volta do capital estrangeiro ao País, após uma saída em massa causada pela aversão ao risco trazida pelo agravamento da crise financeira, em setembro de 2008. Naquela época, investidores estrangeiros que aplicavam em bolsa e títulos do governo no Brasil passaram a enviar dólares para o exterior porque precisavam do dinheiro para cobrir débitos fora do País. Há ainda uma percepção de que o País sofreu menos com os efeitos da turbulência mundial, o que atrai investimentos para o mercado local. "O Brasil hoje atrai capital porque estamos com uma competitividade relativamente boa no comércio internacional", diz Miranda.

A valorização do real é sustentável?

Analistas afirmam que a valorização está sujeita a volatilidade, mas é sustentável e deverá se manter até o fim do ano. A previsão é de que entre mais capital no mercado brasileiro, com reforço da balança comercial, e o real se valorize mais ainda. A expectativa dos economistas consultados pela BBC Brasil é de que o dólar chegue ao fim de 2009 com cotação em torno de R$ 2,00. Para Miranda, dificilmente a tendência de queda da moeda norte-americana no Brasil será revertida até o fim do ano. "A previsão é chegar a patamares até menores, podendo bater R$ 1,85 ou R$ 1,80", afirma o sócio da BMI BankRisk Management.

Quem ganha e quem perde com a cotação mais baixa?

A oscilação do câmbio afeta diretamente as empresas que atuam no mercado internacional. Como têm receita em moeda estrangeira, as empresas exportadoras são prejudicadas pela valorização do real frente ao dólar. No entanto, a cotação atual do dólar ainda é maior do que no início de agosto de 2008, quando a moeda americana estava cotada abaixo de R$ 1,60. Mesmo naquela época, diz André Sacconato, não houve déficit nas exportações. Para as importadoras, a valorização do real é positiva, já que essas empresas têm seus custos calculados em dólar. Além disso, a alta do real também reduz as dívidas das empresas, que são calculadas em dólar. No caso dos consumidores, a valorização do real é positiva porque provoca um alívio na inflação e, consequentemente, redução nos preços. Muitos produtos, como alimentos ou eletroeletrônicos, têm preços ditados pelo mercado internacional. Com o real mais forte, a tendência é de que esses preços fiquem mais baixos.

Quais as consequências para a economia brasileira de maneira geral?

Analistas afirmam que a valorização do real frente ao dólar é o resultado de um processo positivo para a economia brasileira, sinal de que está no rumo correto. Além disso, a queda do dólar pode ter impactos positivos sobre a inflação. Como muitos dos produtos consumidos no Brasil têm seu preço influenciado pela moeda americana, eles ficam mais baratos com a valorização do real frente ao dólar, o que reduz a pressão inflacionária. Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, o alívio da inflação provocado pela valorização do real frente ao dólar deixa ainda espaço para que o BC continue sua trajetória de cortes na taxa Selic. "Também estimula a atividade econômica. Com os preços de produtos importados mais baixos, os empresários podem investir mais pagando menos", diz Borges. Outro setor beneficiado, por exemplo, é o de turismo, que registra aumento das viagens ao exterior com o real mais valorizado. Segundo o economista Alcides Leite, o dólar em um patamar entre R$ 2,00 e R$ 2,20 é positivo porque é alto o suficiente para tornar os produtos brasileiros competitivos no exterior mas, ao mesmo tempo, não é tão alto a ponto de pressionar a inflação.
Agência Estado

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