domingo, 19 de julho de 2009

ECONOMIA NO NORDESTE

A regra de ouro e o supernordeste

Ana Cristina Cavalcante - jornal O Povo-18/07/2009

CENÁRIO

O que é preciso para fazer uma economia funcionar? Dinheiro circulando é a resposta rápida para essa questão original do funcionamento dos mercados. Pode-se dizer que é a regra de ouro do manual keynesiano* que tem sido aplicado no Brasil nos últimos anos, por meio da transferência de renda e do fomento. São programas como o Bolsa Família, o Pronaf, de agricultura familiar e o microcrédito. O PAC , cuja pretensão é dar velocidade ao crescimento do País com investimentos maciços, também está no rol dessas iniciativas que buscam fazer a roda girar.

> Especificamente no Nordeste, os efeitos da indução do crescimento econômico podem ser sentidos na mudança do perfil da população, antes excluída de qualquer forma de consumo - inclusive o atendimento de suas necessidades básicas. É na microeconomia que se vê os resultados desta intervenção.

> Estão lá... Na mãe que pode comprar o material escolar de seu filho que, agora vai (e fica) à escola; no trabalhador rural que tem mais recursos para preparar a sua plantação; no merceeiro que diversifica os produtos que vende na comunidade; e nos assalariados que recebem o seu pagamento pelo emprego recém-conquistado.

> É um círculo virtuoso que se realimenta a cada giro que completa. E isso pode ser comprovado com números. Uma pesquisa do Etene, do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), apontou que os R$ 23 bilhões investidos no Bolsa Família, entre 2003 e 2008, renderam R$ 17 bilhões em arrecadação de tributos. O impacto se deu também sobre os salários: R$ 8,9 bilhões a mais pagos a 1,8 milhão de pessoas, empregadas em decorrência da circulação desses recursos no consumo de bens e serviços de seis milhões de nordestinos, antes à margem do mercado.

> Outro exemplo é o Pronaf. De acordo com os dados do Etene, o programa registrou mais de R$ 8 bilhões em aplicações no Nordeste. Os recursos renderam R$ 3,6 bilhões em impostos, R$ 3,4 bilhões em salários pagos e R$ 13,8 bilhões em aumento da produção. Com a injeção de ânimo (leia-se o tal do dinheiro circulando, da regra de ouro), o Nordeste mostra a quem ainda não tinha percebido que é dono de um pujante mercado consumidor, com média de crescimento maior que a do resto do País.

> E aí está outra lição de Keynes que o Brasil aprendeu muito bem: o fortalecimento do mercado interno. “No Nordeste foi onde se observou, nos últimos anos, a maior migração de pessoas da classe D para a classe C, caminho natural de um país continental como o Brasil, que é a expansão do seu mercado doméstico”, defendeu o deputado federal, José Nobre Guimarães, ao apresentar os números do Etene. E é ele quem arremata: “O Nordeste não é mais o coitadinho. É uma fronteira de possibilidades para o desenvolvimento do Brasil”.

* Política Keynesiana é a baseada no pensamento econômico de John Maynard Keynes, que pregou a participação efetiva do Estado na recuperação de economias estagnadas ou em recessão, por meio da injeção de renda via criação de frentes de trabalho remunerado.

domingo, 5 de julho de 2009

ECONOMIA E ECOLOGIA

Troque o seu carro por uma bicicleta
Ana Cristina Cavalcante Jornal O Povo 04/07/2009

CENÁRIO
Fortaleza foi uma das cidades brasileiras que mais venderam carros em junho. Mais de 5 mil. Ótimo? Sim e não. Sim, porque é um sinal claro de que o poder de compra das pessoas resistiu à crise - seus poucos efeitos práticos e seu inúmeros efeitos psicológicos. Se o fortalezense está indo às concessionárias para comprar carro novo, é porque suas finanças vão bem. O desempenho do varejo é sinal claro disso; e o segmento de bens duráveis mais ainda. A confiança do consumidor local, se é que tinha ido embora, voltou. Vista por esse ângulo, a repercussão do recorde dos veículos é incontestavelmente boa.
> Como tudo tem três lados, vale ponderar sobre a mais famosa lei da física a aplicá-la neste caso. Diz Einstein: para toda ação há sempre uma reação. As consequências de mais 5 mil carros circulando pelas ruas de uma cidade que já não dá conta do seu meio milhão de veículos - mais precisamente 590 mil de um total de 1,12 milhão em todo o Estado). O primeiro desses reflexos a vir à mente é o trânsito - com congestionamentos, onde antes o fluxo era livre ,e muito mais tempo perdido nas filas que se formam nas avenidas de Fortaleza.
> O tráfego difícil é, sim, um efeito da quantidade de carros deste 2009 passando por corredores construídos nos anos 70, 80 e 90 do século passado. A cidade não foi planejada para receber tantos automóveis. Não comporta. Mas, o grande problema desse excesso está na fumacinha que os motores deixam no ar da Capital. Não esqueçam, caros leitores, que o tempo de poluir já está esgotado. Vivemos uma época de corrigir, a toque de caixa, os erros do passado. E, certamente, não será colocando mais carros nas ruas que vamos contribuir para transformar a realidade do aquecimento global.
> A Coluna trouxe o assunto à tona não como forma de ver o lado ruim de um dado positivo da economia. A intenção, aqui, é fazer uma reflexão sobre os caminhos que podemos escolher para melhorar o mundo em que vivemos. Que a indústria se desenvolva; que os governos criem mecanismos de incentivo ao setor produtivo, sempre; que os brasileiros tenham dinheiro (ou crédito) para comprarem o que quiserem. Mas se, em vez de carros, a indústria fabricasse mais bicicletas; prefeituras construíssem ciclovias; e os consumidores preferissem as duas rodas (sem motor)... Aí, sim, teríamos muito para comemorar.
PENSAMENTO ECONÔMICO
“Comida é a única coisa na experiência humana que pode, ao mesmo tempo, abrir nossos sentidos e nossa consciência sobre nosso lugar no mundo.”
>> O Pensamento Econômico abre espaço para a lição de Alice Waters, chefe de cozinha autora do best seller A Arte da Comida Simples. A ideia é mostrar que os novos tempos exigem a consciência de que é nossa a responsabilidade de acabar com o maior apartheid social: a escassez e má distribuição de comida.
ECONOMIA REAL
SANEAR AO CUBO
O presidente da Cagece, Henrique Lima (na foto de Georgia Santiago), afirmou à Coluna que os recursos já captados pela estatal de água e esgoto do Ceará são o equivalente a “três Sanear”. Ele explica que a Cagece possui diversos programas de esgotamento sanitário e os recursos vêm de diversas fontes. Alguns poucos são “a fundo perdido”, como Funasa. Mas a maioria, “maioria mesmo”, são empréstimos que a Cagece faz e precisa prestar contas depois.
> Ao todo, a empresa contabiliza 16 programas (incluindo subprogramas) de implantação de saneamento (água e esgoto). Entre eles, é que está o Sanear II. Desde 2007 e até 2012, a Cagece pretende aplicar cerca de R$ 840 milhões. Apenas R$ 185,9 milhões são do Sanear. O restante está dividido entre Alvorada, PAC, KFW, Pró-saneamento e outros programas.
> Segundo Henrique Lima, a Cagece está investindo este ano, só em Fortaleza, cerca de R$ 150 milhões. O valor aproxima-se do recorde histórico da empresa para todo o Estado.
SOBRE FUSÕES
O deputado e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, é um dos defensores da modernização dos processos de concorrência. É relator do projeto de lei que propõe a reestruturação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). E, em tempos de tantas e tamanhas fusões, é bom que todos estejamos atentos para as condições em que a concorrência se dá (ou não se dá!). “As propostas para a reestruturação do Cade vêm modernizar as ferramentas para proteção da concorrência. É um sistema admirável até se comparado ao de outros países e, principalmente, resguarda o consumidor porque inverte a lógica atual. Pela proposta, os atos que podem provocar concentração do mercado devem ser comunicados aos órgãos de defesa da concorrência antes da conclusão do negócio. Atualmente, esse aviso ocorre somente após a conclusão das fusões”, disse Gomes.

ECONOMIA

A física, a economia e a crise financeira internacional
Alexandre Cialdine-Jornal O Povo 04/07/2009

Albert Einstein escreveu que “a ciência não é nada mais que o refinamento do pensamento cotidiano”. A economia, assim, como a física, é considerada ciência, pois ambas se utilizam do método científico, ou seja, regras pré-definidas para o desenvolvimento de uma pesquisa. A física, por exemplo, tem como observação os fenômenos físicos da natureza, já a economia, como toda ciência social, não pode desviar seu foco da sociedade em seu campo de estudo. As ciências se desenvolvem por meio do método cientifico que é composto por cinco fases: 1) observação de um fato social, fase em que são detectados os problemas; 2) formulação de hipóteses, possíveis respostas; 3) argumentação, com a busca de conhecimentos nas diversas áreas e autoridades, 4) estabelecimento de uma tese, ou seja, comprovação de uma hipótese, 5) teoria, conjunto de teses que explica um fato. Isaac Newton, no século XVII, desenvolveu a teoria da gravidade, a partir do momento em que viu uma maçã cair de uma árvore, fundamentando que a teoria não servia só para maça, mas para qualquer tipo de objeto. Essa teoria, que mesmo depois de ter sido refutada por Einstein, foi tão bem-sucedida que ainda é ensinada nos cursos de física.
Assim também uma teoria ganha adeptos na economia e em outras ciências e se perpetua no tempo. Todavia, embora os economistas, como os demais cientistas, utilizam a teoria como referência para a solução dos problemas, eles enfrentam um empecilho que se transforma em desafio contínuo. Na física, como ciência pura, pode-se testar as hipóteses, dentro de um laboratório, mediante controle de temperatura, pressão e gravidade visando melhor o desempenho ou criando algo completamente novo. Na economia, as hipóteses também são elaboradas objetivando facilitar a compreensão das relações sociais dos indivíduos, a partir da observação da sociedade, pois, estuda a produção, distribuição e, consumo de bens e serviços.
A crise financeira internacional que, felizmente o Brasil está em processo de superação, serve para que os economistas de mercado se “embriaguem” menos e observem mais seu laboratório, ou seja, a sociedade. De forma que uma tese que embasa uma teoria seja sempre refutada e provoque alterações ou novas teorias, pois recorrentemente o mundo real não tem se conformado com resultados preditivos e, algumas previsões econômicas diante de uma crise e logo caem por terra. O excepcional Alfred Marshall, que era matemático, físico e economista dizia que a explicação cientifica é apenas uma “previsão escrita de trás para frente”, mas a proposição inversa é falsa: a previsão não é necessariamente explicação escrita para frente.
Não há e nunca haverá uma única verdade, por isso, não há uma teoria absoluta, as visões funcionalistas baseadas no método empírico, que retiram da experiência sua observação, voltadas para o conhecimento lógico-dedutivo, que parte do maior para o menor, como no “Boicote de Comte” falham completamente na sua argumentação e comprometem suas teses, pois não admitem que a economia deva fazer uso do conhecimento histórico-indutivo, que parte da observação ao seu redor, do fato social local e seu desenvolvimento, como bem alertava Celso Furtado.
E, a atual crise financeira demonstra isso, pois parte dos economistas que sempre aturaram na linha de mercado e que não se preocuparam com a sociedade, inebriados por seus interesses particularizados ou corporativos, inerentes ao sistema capitalista, não perceberam que o problema não estava na circulação de papéis, nos grandes centros comerciais ou nas grandes Bolsas de Investimentos, mas no comportamento desenfreado das pessoas de trocar a certeza de um patrimônio imóvel pelo recebimento de valores estimados pelo mercado (ou seja, pela dedução de que o imóvel no próximo mês valeria mais X por cento do que neste, portanto, cobriria o valor já financiado). Assim, tal expectativa de valoração do imóvel, contínua, fez com que as pessoas se despreocupassem de adquirir dinheiro por outro meio, porque bastava apresentar a escritura de seu imóvel, mesmo financiado em um banco para obter um crédito pré-aprovado, assim utilizavam hipotecas parciais para pagamento de outras dívidas e consumiam outros bens.
Mas, justiça se faça aos que estavam no epicentro da crise financeira, que estavam no meio acadêmico não se deixaram ludibriar pelas expectativas irracionais, Paul Krugman, Joseph Stigletz, Nouriel Roubini e seu orientador Jeffrey Sachs foram economistas conhecidos, em âmbito internacional e ligados à academia, já vinham alertando anos antes sobre os diversos problemas da “bolha imobiliária”.
Entretanto, nomes não muito conhecidos aqui já tinham publicações e análises consistentes, que consideravam de grande risco o crédito hipotecário imobiliário praticado de forma mais abrangente nos EUA.
E, para não deixar de falar de índices, os economistas Karl Case (Wellesley College) e Robert Schiller (Yale University) criaram um índice para medir o desempenho do mercado imobiliário norte-americano. O índice, denominado Case-Schiller, vinha se mantendo estável desde 1987 e começou a disparar a partir de 2000. No pico da especulação imobiliária em 2006, chegou a triplicar de valor. Para se ter uma idéia de 1997 a 2006 houve uma forte valorização dos imóveis residenciais americanos, onde os aumentos reais atingiram 85%, sendo que, no ano de 2005, no auge do processo, esse percentual chegou a 15%. Foi o maior boom imobiliário nos EUA em mais de 50 anos.
Assim, a crise, que tem sido superada, traz mais uma vez a necessidade de se rever a metodologia e os critérios de aceitação e rejeição dos programas de investigação, fixando padrões que contribuam a distinguir o trigo do joio, afora, a evidente necessidade de um estado que regule o capital olhando para os fatores sociais e locais existentes. Pois de nada adiantou o sistema defendido pelo capitalismo norte-americano de auto-regulação do mercado, haja vista que o capital independente teve e está ainda se socorrendo da mediação estatal para que não ocorra um colapso.
Alexandre Cialdini é Secretário de Finanças de Fortaleza

quinta-feira, 2 de julho de 2009

DÓLARxREAL

Cotação
Entenda a desvalorização do dólar no Brasil


Cotação da moeda norte-americana ante o real caiu 15,70% no 2º trimestre deste ano, maior queda da história

O dólar registrou no segundo trimestre de 2009 a maior desvalorização ante o real desde o início do regime de câmbio flutuante no Brasil, em 1999. Segundo dados da consultoria Economática, a cotação da moeda norte-americana caiu 15,70% entre abril e junho deste ano. Os dados se referem à cotação de venda para a Ptax, taxa média das cotações ponderada pelo Banco Central. Em 1º de abril, a moeda era cotada por R$ 2,2899. No pregão de terça-feira, fechou em R$ 1,9516. A maior desvalorização antes deste trimestre havia sido no segundo trimestre de 2003, quando o dólar caiu 14,35% no período. No 1º semestre deste ano, a Ptax registrou desvalorização de 16,49%, a terceira maior queda anual desde 1999, perdendo apenas para os anos de 2003 (18,23%) e 2007 (17,15%).
Veja algumas perguntas sobre os motivos da valorização do real e seu impacto na economia brasileira:

Por que o real tem se valorizado tanto?

Segundo o sócio-diretor da consultoria BMI BankRisk Management, Antônio Dirceu Miranda, o dólar vem se desvalorizando em todo o mundo, como consequência da política monetária do governo norte-americano, que é uma política de alto endividamento. "O dólar está caindo porque houve muita emissão nos últimos anos, seja em forma de dívida, seja em forma de moeda." Também há fatores específicos na economia brasileira que ajudam na valorização do real, entre eles o aumento das exportações e dos preços das commodities, que vem puxando para cima o saldo da balança comercial. Dados mostram que o saldo comercial brasileiro em junho ficou em US$ 4,625 bilhões, o maior desde dezembro de 2006. Além disso, o fluxo de dólares para o Brasil reverteu a tendência de queda a partir de março, como resultado do saldo positivo na balança e da retomada de investimentos no mercado brasileiro, principalmente em ações. Com a entrada maior de dólares no País, a oferta da moeda aumenta no mercado e a tendência da taxa de câmbio é cair. O fluxo positivo nos últimos meses mostra uma volta do capital estrangeiro ao País, após uma saída em massa causada pela aversão ao risco trazida pelo agravamento da crise financeira, em setembro de 2008. Naquela época, investidores estrangeiros que aplicavam em bolsa e títulos do governo no Brasil passaram a enviar dólares para o exterior porque precisavam do dinheiro para cobrir débitos fora do País. Há ainda uma percepção de que o País sofreu menos com os efeitos da turbulência mundial, o que atrai investimentos para o mercado local. "O Brasil hoje atrai capital porque estamos com uma competitividade relativamente boa no comércio internacional", diz Miranda.

A valorização do real é sustentável?

Analistas afirmam que a valorização está sujeita a volatilidade, mas é sustentável e deverá se manter até o fim do ano. A previsão é de que entre mais capital no mercado brasileiro, com reforço da balança comercial, e o real se valorize mais ainda. A expectativa dos economistas consultados pela BBC Brasil é de que o dólar chegue ao fim de 2009 com cotação em torno de R$ 2,00. Para Miranda, dificilmente a tendência de queda da moeda norte-americana no Brasil será revertida até o fim do ano. "A previsão é chegar a patamares até menores, podendo bater R$ 1,85 ou R$ 1,80", afirma o sócio da BMI BankRisk Management.

Quem ganha e quem perde com a cotação mais baixa?

A oscilação do câmbio afeta diretamente as empresas que atuam no mercado internacional. Como têm receita em moeda estrangeira, as empresas exportadoras são prejudicadas pela valorização do real frente ao dólar. No entanto, a cotação atual do dólar ainda é maior do que no início de agosto de 2008, quando a moeda americana estava cotada abaixo de R$ 1,60. Mesmo naquela época, diz André Sacconato, não houve déficit nas exportações. Para as importadoras, a valorização do real é positiva, já que essas empresas têm seus custos calculados em dólar. Além disso, a alta do real também reduz as dívidas das empresas, que são calculadas em dólar. No caso dos consumidores, a valorização do real é positiva porque provoca um alívio na inflação e, consequentemente, redução nos preços. Muitos produtos, como alimentos ou eletroeletrônicos, têm preços ditados pelo mercado internacional. Com o real mais forte, a tendência é de que esses preços fiquem mais baixos.

Quais as consequências para a economia brasileira de maneira geral?

Analistas afirmam que a valorização do real frente ao dólar é o resultado de um processo positivo para a economia brasileira, sinal de que está no rumo correto. Além disso, a queda do dólar pode ter impactos positivos sobre a inflação. Como muitos dos produtos consumidos no Brasil têm seu preço influenciado pela moeda americana, eles ficam mais baratos com a valorização do real frente ao dólar, o que reduz a pressão inflacionária. Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, o alívio da inflação provocado pela valorização do real frente ao dólar deixa ainda espaço para que o BC continue sua trajetória de cortes na taxa Selic. "Também estimula a atividade econômica. Com os preços de produtos importados mais baixos, os empresários podem investir mais pagando menos", diz Borges. Outro setor beneficiado, por exemplo, é o de turismo, que registra aumento das viagens ao exterior com o real mais valorizado. Segundo o economista Alcides Leite, o dólar em um patamar entre R$ 2,00 e R$ 2,20 é positivo porque é alto o suficiente para tornar os produtos brasileiros competitivos no exterior mas, ao mesmo tempo, não é tão alto a ponto de pressionar a inflação.
Agência Estado

quarta-feira, 1 de julho de 2009

TRABALHADOR EXPLORADO!

Pobres trabalham 91 dias a mais para pagar tributos

Os brasileiros com renda de até dois salários mínimos mensais precisaram trabalhar 197 dias no ano passado para pagar seus impostos. Se recebeu mais de 30 salários mínimos, foram necessários 106 dias para honrar os compromissos com tributos

Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar novas desonerações tributárias para o setor produtivo, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) divulgou ontem estudo que mostra que os brasileiros mais pobres têm que trabalhar 197 dias do ano para pagar os tributos cobrados por União, Estados e Municípios. É quase o dobro dos 106 dias de esforço exigidos dos brasileiros mais ricos do País, que ganham acima de 30 salários mínimos. Uma diferença de três meses e meio em relação ao esforço dos trabalhadores mais pobres com renda até dois salários mínimos. Segundo o Ipea, os 10% mais pobres do País gastam 33% do que recebem para pagar tributos, enquanto os mais ricos destinam 23% da renda. Com base na carga tributária de 2008, o estudo do Ipea, que é um órgão de pesquisa do Governo Federal, mostra que esse desequilíbrio histórico da economia vem aumentando e está longe de ser resolvido. De 2004 para 2008, o comprometimento da renda com o pagamento de tributos dos brasileiros aumentou mais para os pobres, crescendo a distância que separa dos brasileiros mais ricos. No ano passado, estima o Ipea, as famílias com renda de até dois salários mínimos comprometeram 53,9% de tudo que ganharam com o pagamento de impostos. Em 2004, essas famílias gastavam 48,8%. Um salto de quase cinco pontos percentuais em apenas quatro anos Já para as famílias mais ricas, o peso dos tributos sobre a renda cresceu menos: subiu no período de 26,3% para 29%. Gastos O estudo "Receita Pública: quem paga e como se gasta no Brasil" traz também uma radiografia de como são gastos os tributos recolhidos. A maior parte com o pagamento de juros da dívida da União, Estados e municípios. Os brasileiros gastaram, em 2008, 20,5 dias de trabalho para pagar os juros da dívida pública. Já o programa Bolsa Família custou 1,4 dia. Os brasileiros precisaram de 16,5 dias de trabalho para pagar as aposentadorias e pensões da área urbana. As aposentadorias dos servidores do Executivo, Legislativo e Judiciário custaram 6,9 dias. Por outro lado, os gastos com Educação e Saúde pesaram menos.
NÚMEROS 32,8 DOS RENDIMENTOS DOS 10% MAIS POBRES NO BRASIL FORAM USADOS PARA O PAGAMENTO DE IMPOSTOS EM 2008 22,7 DA RENDA DOS MAIS RICOS FORAM UTILIZADOS PARA PAGAR TRIBUTOS NO ANO PASSADO 20,5 DIAS DE TRABALHO FORAM GASTOS PELOS BRASILEIROS PARA PAGAR OS JUROS DA DÍVIDA PÚBLICA 16,5 DIAS FORAM TRABALHADOS PARA PAGAR AS APOSENTADORIAS E PENSÕES DA ÁREA URBANA. JÁ O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA CUSTOU 1,4 DIA
E-MAIS >O presidente do Ipea, Marcio Pochmann, diz que a diferença na carga de tributos paga em cada faixa de renda se deve à cobrança indireta de tributos. Pelos cálculos, de cada R$ 100 de tributos pagos no País, R$ 42 são indiretos. Os trabalhadores com rendimentos menores são isentos de Imposto de Renda. Mas os tributos são cobrados em todos os itens que consomem, na chamada tributação indireta. Como as alíquotas são as mesmas, independentemente do rendimento de quem compra, elas pesam mais no bolso dos contribuintes com menor renda. >O esforço dos contribuintes de todas as faixas de renda para pagar impostos aumentou nos últimos anos. Isso porque a carga tributária total do País subiu. Em 2008, o Ipea calcula que ela ficou em 36,2% do PIB, ante 32,8% em 2004. O Ipea segue a metodologia do IBGE, diferente da Receita Federal. Portanto, quando o fisco apresentar o cálculo de carga tributária de 2008, este será menor porque não inclui os gastos com FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), por exemplo.