quinta-feira, 4 de junho de 2009

ARTIGO DE DELFIN NETO PARA A FOLHA

Vale a pena ler o artigo do ex-ministro Delfim Neto publicado na edição de hoje (03/06/2009) da Folha de São Paulo. Nele, o articulista desvenda um pouco sobre como se formam as ondas de negativismo que estamos vivendo hoje a partir de análises do passado que já não refletem a realidade do cidadão comum atualmente.
Aos interessados: “Há muitos anos sabemos que o ‘homem comum’, com o qual tem de lidar a política econômica, é um ser gregário, altruísta, mais emocional e menos racional do que o frio e calculista ‘homem econômico’. Este é uma conveniente máquina individualista e egoísta, que maximiza seus benefícios e minimiza seus sacrifícios, com a qual a profissão às vezes se diverte na tentativa de entender como funciona o sistema econômico.
Sendo assim, a reação de cada agente econômico às novas informações depende não apenas do seu entendimento mas também do entendimento e da reação dos outros. Cria-se uma espécie de rede informal e invisível que ‘coordena’ a resposta coletiva. É por isso que existem ‘ondas’ de ‘otimismo’ ou ‘pessimismo’ e o comportamento da sociedade ou é de ‘rebanho’ (quando há certeza sobre o futuro) ou de ‘manada’ (quando o nível de incerteza cresce).
Isso mostra a importância de prevenir os agentes econômicos sobre o significado real da informação, de forma que possam sempre relativizá-la dentro do contexto e evitar a resposta exagerada. Para dar um exemplo, tomemos as possíveis informações sobre o comportamento do nosso PIB em 2009.
Costuma-se medir a evolução do PIB comparando crescimento anual entre o mesmo trimestre de dois anos consecutivos, o que evita a influência das variações estacionais. Entre o terceiro trimestre de 2007 e o de 2008, o crescimento anual do PIB foi de 6,8%. Na comparação entre os quartos trimestres, ele caiu dramaticamente para 1,3%. O crescimento anual 2008/ 07 ainda foi de 5,1%. A crise que importamos em setembro de 2008 começa a dar sinais de ceder no início do terceiro trimestre de 2009. As notícias que teremos no futuro sobre o PIB serão dramáticas, mas estarão refletindo apenas o que já aconteceu.
Suponhamos (não é uma ‘previsão’, mas uma simples hipótese): a) que o PIB do 1º trimestre de 2009 tenha sido 2% inferior ao do 4º trimestre de 2008; b) que no segundo trimestre tenha se mantido no mesmo nível e c) que a partir do 3º trimestre ele cresça, sobre o trimestre anterior, 1% até o fim de 2010. O que revelariam as estatísticas do IBGE? Os números seguintes do crescimento anual de trimestre/trimestre: 1º trimestre 2009/08, -2,4%; 2º trimestre, -3,9%; 3º trimestre, -4,6% e 4º trimestre, zero. O crescimento anual 2009/08 seria de -2,7%. A boa notícia é que em 2010 ele seria de 3,8%. O ponto importante a destacar é que, quando a dramática ‘nova’ informação do 3º trimestre (queda de 4,6%) for feita, em janeiro de 2010 pelo IBGE, o PIB brasileiro já estaria crescendo 3¨%”

Nenhum comentário: